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Foto do escritorR. M. Ferreira

O Mecânico

Atendendo a pedidos! Quem já leu, lê de novo...quem não leu... se joga, né neg@?!



"O que tem de ser, tem muita força. Ninguém precisa se assustar com a distância, os afastamentos que acontecem. Tudo volta! E voltam mais bonitas, mais maduras, voltam quando tem de voltar, voltam quando é pra ser. Acontece que entre o ainda-não-é-hora e nossa-hora-chegou, muita gente se perde. Não se perca, viu?" Caio Fernando Abreu




Uma fauna divertida de sátiros desfilou na tela de seu computador: Tarado do 312, Pika das Galáxias, Depilado Dotado, Sonho das Borboletas, Kasado Sigiloso, Maduro mas Guerreiro, Novinho Devasso...

Ilustrando nomes e apresentações, um mostruário formidável de fotos destacava um sem fim de pintos, peitos e bundas, como se a tela não passasse de uma grande vitrine de açougue. “Carnes íntimas”, ela pensou, enquanto navegava pelo mais novo brinquedo virtual: uma rede social adulta.

O impacto veio dentre as “carnes”: uma rola que se mostrava indômita, numa imagem lateral. Engasgou. Não era nem a maior e nem a mais grossa que já havia visto por ali. Mas era a mais impressionante. Atrevida e cheia de si, mostrava-se robusta e duríssima no perfil de um inusitado Mecânico de Bucetas. Assim mesmo, no plural.

Ela riu. Não soube dizer se de nervoso, de diversão ou se as duas coisas. Fato é que o “mecânico” se apresentava como um homem heterossexual, que gostava muito de sexo e se oferecia para satisfazer mulheres, sem envolvimento emocional ou financeiro.

Parecia letra de pop rock antigo, sucesso longínquo da década de 1980. No entanto, a referência completou a química. Sentiu um calor tão grande irradiando pelas próprias “carnes”, que não pensou duas vezes antes de fazer contato.

O retorno demorou um pouco. Enfrentaram desencontros e fuso horários. Raramente se encontravam no chat ao mesmo tempo. Mas, tão longo se viram online, migraram imediatamente para o WhatsApp, o campo garantido de putaria virtual.

Confirmaram fotos. Ele se encantou com a sua beleza, mesmo sendo reiteradamente lembrado de que a maior parte daquilo não passava de photoshop. Já ela, não controlou a própria salivação quando ele garantiu, até meio ofendido, que a imagem não era fake:

– Essa rola é sua mesmo...?

– Mas é lógico!

Sentiu um certo acelerar do coração. Na medida em que a conversa evoluía, explicou que não era casada e que estava em uma busca simples: um pau amigo, capaz de apaziguar seus calores uma vez por semana. Ele achou ótimo. Se dispôs a trabalhar nela como mecânico, bombeiro, eletricista, pedreiro, pintor e mestre de obras, realizando toda e qualquer manutenção que ela precisasse.

– E você dá conta de tudo...?!

– Faço o que for preciso!

Ela ria. Adorava as conversas e a forma tranquila com que ele aceitava seus fetiches:

– E se eu quiser apanhar? Levar uns tabefes na bunda?

– Você vai arder três dias.

– E se eu quiser um amorzinho gostoso, ficar de bobeira, beijando na boca...?

– Vou ser seu namorado.

– E se eu quiser experimentar uma suruba, um gang bang, uma orgia?

– Eu organizo a fila.

Risos. Risos e mais risos. A um passo de aceitar que a química existia de fato, fez a pergunta feminina clássica:

– E o seu signo? Qual é?

– Sagitário. E o seu?

– Gêmeos.

– Você sabe o que acontece quando ar e fogo se encontram, né?

Ficou meio cataplética quando leu o comentário. Sério?! Ele entendia de combinações astrológicas?! Engasgou de novo. E custou um pouco para responder. Mas quando o fez, já estava assinando o acordo de um encontro real:

– Sim. Uma explosão...

Conclusos os trâmites, definiram hora e lugar. Às 14h da próxima semana, – pois ela estava assoberbada de trabalho –, na oficina dele, localizada num bairro distante. Era um encontro, nada mais que um encontro. Exclusivo para medir a temperatura da química em contato com a realidade.

Chegado o dia, acordou com um emoji sorridente e uma mensagem efusiva:

– É hoje, viu?

No entanto, quebrou o acordo. Estava cansada, passado por uma noite muito mal dormida e profundamente irritada. Não conseguiu enfrentar a preguiça nem a vontade de dormir o dia todo. Respondeu que preferia a cama. E que deixariam aquilo para outro dia.

Manso, ele não pressionou nem quis remarcar. Deixou quieto. Apenas respondeu com outra mensagem:

– Ok.

Acontece que na literatura já existe um ditado, impresso há tempos em tinta e papel: “[...] o que tem de ser, tem muita força”. E o tempo fez seus truques.

Passados os dias, as imagens dele lhe perseguiram, intensas e recorrentes. O pau lhe invadindo a boca... a boca lhe lambendo os seios... as mãos se imiscuindo em sua buceta... nos mais diferentes locais, espaços e lugares, numa mistura insólita de odores e texturas.

Sorriu, quando, finalmente, ele retomou o contato:

– Olá.

– Oi! Voltou?

– Sim. E você?

– Também.

Os códigos eram claros. E ficava impressionada por ele compreende-los sem o mínimo esforço.

Na próxima semana vou passar na sua oficina. Você tem um abatedouro discreto, onde vai poder fazer a minha revisão?

– Não. Vamos num motel. – não gostou. Achava motel uma alternativa “fim de linha”, um começo sem retorno. Gostava dos instantes roubados, que se diziam por si. Se fossem bons, renderiam outros mais, inclusive num motel. Disse tudo isso para ele. E ainda confessou:

Além disso, com você eu tenho um monte de fantasias...

– Me conta.

E ela contou:

No momento, o que me excita é a confusão dos meus sentidos... um cômodo escuro, um amontoado de estopas, um cheiro de motor e gasolina... seus dedos com manchas de graxa, seu pau enorme me comendo de costas, um contraste bruto entre o calor da urgência e o frescor da sua boca cheirando a pasta de dente... A imagem que essa fantasia me evoca é tão chula quanto poética. Mas é justamente isso o que me agrada em você. Gosta?

– Nós dois adoramos.

– Como assim, “nós dois”?

– Eu e o seu pau amigo.

Risos. Risos e mais risos.

Mais uma vez combinaram. Não exatamente um dia nem uma hora específicos, porque os compromissos pré fixados a estressavam. Na próxima semana, num dia e numa hora que lhe desse na telha.

No entanto, de novo, ela quebrou o combinado. Não por preguiça, cansaço ou sono. Mas por fissura, calor, tempestade, desejo. Um dique transbordado de tesão que lhe subia pelas “íntimas carnes”, instalando-se nos vãos e pressionando seus espaços. Estava tão transtornada e, ao mesmo tempo, tão sem expectativa, que apenas dividiu a aflição:

– Meu Deus do céu...que vontade de dar! Hoje o negócio tá custoso!

Uma carinha angustiada arrematava a mensagem de WhatsApp.

Não esperou que ele respondesse. Aliás, nem julgou que ele veria, especialmente no meio da tarde de um feriado religioso...

Mas ele viu. Não apenas viu como respondeu de pronto:

Vamos lá na oficina, então. Só eu tenho a chave. Vou te chupar até você se acalmar.

Não pensou. Só perguntou como chegava até lá.

Ele lhe passou o endereço que, inclusive, já havia passado antes. Indicou um número bem razoável de pontos de referência, deslindou cada um dos caminhos que conhecia e, por fim, apelou para o bom senso:

Põe no google! Vou tomar uma ducha. Deixo o portão aberto e você põe o carro lá dentro.

– Ok.

– Mais uma coisa.

– O que?

– Vai de vestido e sem calcinha.

Não respondeu. Só riu. Gostou da ordem e da entonação que as letras sugeriam. Mas, em nenhum momento pensou em obedecer. Ele tinha razão quanto ao encontro explosivo entre o fogo e o vento. Justamente por isso, não seria ela mesma se aceitasse uma ordem sem pestanejar.

Tomou banho. Aprontou-se. Descobriu, encantada, que estava trêmula e ansiosa. Entre quedas de batons e tremores das mãos, cumpriu a “ordem” pela metade: enfiou-se num vestido preto, curto, e saiu de casa guiada pela voz metálica do GPS.

É claro que o GPS se confundiu e é claro que ela mesma se atrapalhou com umas duas ou três ruas. Mas chegou. Encontrou a rua certa, seguiu em frente e nem precisou conferir o número. O letreiro da oficina e o portão escancarado davam mostras de que era aquele o lugar. Lentamente, manobrou o carro e entrou.

A primeira coisa que viu foi um jato forte de água, batendo ostensivamente sobre o capô de um carro imundo. A água saía de uma mangueira verde e grossa, segura por uma pessoa cujo corpo permanecia oculto por uma parede lateral.

Estacionou. Puxou o freio de mão. E observou extasiada a pessoa dar dois passos para a direita e colocar-se, frontalmente, no seu raio de visão.

Engoliu em seco. É claro que vira fotos dele. E é claro que futricara na internet até achar seus perfis nas redes sociais. Mas nenhuma das fotos que encontrou em álbuns de família, encontros com amigos ou churrascos de fim de semana, lhe faziam jus. A verdade, pura e simples, é que ele não era nenhum pouco fotogênico. Porque a realidade extrapolava em anos luz o que as lentes de máquinas digitais e celulares não haviam sido capazes de registrar.

A pessoa baixou a mangueira. Colocou uma das mãos enormes na cintura fina. Deixou que os olhos dela percorressem sem pudor o abdômen perfeito, exposto pela camisa aberta. Descansou um dos dedos na presilha da calça, assentada perigosamente abaixo do umbigo. Indicou inconscientemente a própria mala, que crescia avantajada sob o jeans. Cravou nela dois olhos esverdeados. E com uma voz encorpada, cumprimentou:

– Boa tarde! Posso ajudar?

Ela quase enfartou!

Deixou que um sorrisinho nervoso brincasse sobre a boca, evitando pensar que beleza não se punha à mesa e que ela mesma já havia se enrolado com um homem igualmente bonito, de pau grande e voz grossa! Mas que não fazia a menor ideia de como usar o próprio pinto e nem conseguia aprender...

– Boa tarde...! – respondeu de volta, inclinando a cabeça pela janela aberta. – Estou procurando um mecânico! Sabe onde encontro um?

A criatura desligou a mangueira e largou-a no chão. Veio ondulando o corpo na direção do seu carro, arrastando com indolência um chinelo de couro. Aproximou-se da porta, colocou duas mãos calejadas na janela aberta. Inclinou-se para baixo. Deixou que ela observasse a tez dourada e uma boca de lábios cheios. Desmanchou-se num sorriso de dentes claros, rigorosamente enfileirados, e disse:

– Já encontrou.

Quase suspirou. O hálito de pasta de dente veio brincando da boca dele até seu nariz. O cheiro de banho recém tomado, exalando o odor exclusivo de um sabonete barato, também lhe alcançou. O homem, inteiro, parecia cheirar aos preparativos dedicados ao sexo imprevisto...

– Estou precisando trocar o óleo. Você faz esse tipo de trabalho?

– Faço...! Troco óleo, ponho água no radiador, limpo o pistão, lubrifico o virabrequim...

Um calor indisfarçável tomou conta de suas faces. Ela não sabia se ria ou se pulava de uma vez no pescoço dele, completamente excitada com aquela conversa enviesada. Mas continuou:

– Uau! E tudo isso na frente do carro?!

– Você não faz ideia do que eu também posso fazer na traseira...

Deixou que os seus olhos se perdessem dentro dos dele. Inclinou-se para frente, mais para perto e sussurrou:

– Na traseira do meu carro?

Na sua também!

Abriu-se num sorriso largo. Passou a língua pelos lábios, engoliu com certa dificuldade...

– E isso tem custo? – ele negou com a cabeça.

– Nenhum. Faço por amor à profissão!

Então, assentiu. Puxou a chave da ignição e se preparou para sair do carro.

– Vou trancar o portão. – ele anunciou. Dito isso, se afastou e foi percorrendo o caminho estreito que levava à entrada da oficina.

Antes de sair e experimentar cada uma das sugestões tortas que lhe foram dadas, ela o observou pelo retrovisor. Avaliou seus movimentos, o jeito leve com que executava cada uma das ações: colocar a mão no ferro batido... empurrar o portão... pegar o cadeado... juntar as pontas de uma corrente grossa...

– Ai... Ai...

Saiu do veículo, bateu a porta. As regras dos encontros virtuais tinham sido quebradas uma a uma naquela situação. Nunca, sob nenhuma circunstância, encontrar-se com um desconhecido em um lugar isolado, ermo e sem chance de fuga! Mas, lá estava ela, trancada numa oficina mecânica com um homem que, pelo amor de Deus, era uma tentação!

Seguiu na direção da mangueira largada no piso de cimento. Observou pelo menos oito carros estacionados em baias, abertos, em processo de conserto. Virou à esquerda e encontrou o que deveria ser um escritório: uma sala sem janelas, escura, com paredes cobertas por estantes empoeiradas, repletas de peças. De frente, um grande sofá de estofamento verde. Ao lado, uma mesa antiga guardando sobre o tampo uma caixa de parafusos, ferramentas e uma lista de telefone. No centro, um amontoado fantástico de revistas descansando sobre uma mesa baixa e retangular. Não se surpreendeu ao observar que as capas eram, todas, de uma revista chamada “O mecânico”.

Riu. Apesar do sofá contar silenciosamente que havia sido objeto de uma dedicada operação cenográfica, ela preferiu uma poltrona lateral. De novo, “o fogo e o vento” em processo de colisão. Ela também havia montado sua marcação cenográfica e não estava disposta a abrir mão da sua para encenar a dele. Mesmo assim, foi obrigada a admitir que o escritório da oficina correspondia integralmente à sua própria fantasia.

Inspirou profundamente o cheiro áspero de óleo de motor e gasolina... localizou nas estantes empoeiradas e na própria mesa com parafusos, tufos de estopa esquecidos... percorreu com os dedos a textura machucada na poltrona velha. Suspirou. Sentiu a libido ensandecida espalhar-se da vagina para o corpo todo! Sentou-se na ponta da poltrona. Desceu a calcinha até os joelhos. De pés descalços, abriu as pernas. E esperou-o.

Ele entrou pouco depois. Sem alarde, em silêncio. Puxou a porta de vidro fosco, fechou-a. Virou-se para ela. Os olhos foram direto para a calcinha arriada, mostrando-se insolente sobre os joelhos.

– Você é uma menina desobediente! – afirmou com ar consternado, meneando a cabeça. Indo na direção da mesa com revistas, depositou sobre elas um celular e uma chave. E enquanto fazia isso, ela o provocou:

– Não gosto que mandem em mim...

– Bom, mas isso não é um problema meu. Porque vou te castigar assim mesmo!

Ela inclinou a cabeça para o lado.

– É mesmo...? E vai fazer o que? Me bater?

– Justamente.

Ele deixou a camisa cair. Postou-se de frente para ela. Levou as mãos ao cós da calça. Baixou o zíper. Em poucos segundos estava nu em pelo, ostentando um pau duro que crescia agressivo, como um mastro de bandeira.

Aproximou-se. Enfiou os dedos entre seus cabelos e agarrou-os com força. Com a mão livre, segurou o pau e colocando-o bem diante de seus olhos, disse:

– Aprende uma coisa: eu não gosto de meninas desobedientes!

Bateu com a pica no rosto dela uma, duas, três, quatro, cinco, um punhado e tanto de vezes! Depois, posicionou a rola em sua boca e numa ordem seca, mandou:

– Chupa.

Obedeceu. Abriu os lábios. Envolveu a cabeça da rola com a língua, lambeu, benzuntou de saliva, correu os dedos pelo comprimento, chupou. Chupou, chupou e chupou o pau hirto, cheiroso e bonito que ele enfiava sem dó na sua boca. Sentiu as mãos ágeis se apoderarem mais uma vez de seus cabelos, juntando os fios no alto. Sustida por duas mãos poderosas, recebeu as estocadas de um pica que chegou impávida até o meio de sua garganta!

Quando ele saiu, ela respirou. Os olhos lacrimejavam, estava um pouco tonta e com a boca doendo. Mas.... estava adorando! Olhando para ele com um ar falsamente ofendido, lutando contra o meio sorriso que teimava em não sair da boca, murmurou:

– Seu cretino...!

Ele riu. Na penumbra da sala, os dentes dele se destacaram entre as sombras. Devagarinho, foi baixando o rosto em sua direção. Afrouxou os dedos e liberou seus cabelos. Com a boca bem perto da dela, também murmurou:

–Lá fora eu posso fazer o que você quiser. Mas, aqui dentro, você faz o que eu mando!

A beijou. Com delicadeza, deferência, cuidado, precisão. Enfiou a língua em sua boca, chupou, lambeu, ofereceu-se, retribuiu. Depois se afastou de novo. E com muita seriedade, ajoelhou-se na frente dela.

Tirou sua calcinha e jogou longe. Nem prestou atenção onde caiu. Estava mais preocupado em afastar suas pernas e repousar a cabeça entre suas coxas, para chupá-la lenta e langorosamente....

Ela gemeu. Inclinou o corpo para frente, colocou os pezinhos em volta de suas costas, segurou-lhe a cabeça. E tão dedicada quanto ele, rebolou enfurecida, esfregando-se em sua boca. Muito concentrado, lhe lambia o clitóris, passeava a língua pelos grandes lábios, enfiava-a dentro da vagina, lambia, circundava, voltava.

Foi ficando atarantada. Quis que ele parasse, que a comesse de uma vez e acabasse logo com aquilo! Mas na batalha entre seus elementos, a vitória havia sido do fogoso sagitário. Portanto, ali, naquela oficina insalubre a geminiana estava à sua mercê...

Continuou chupando. Continuou lambendo...e não parou com a carícia nem mesmo quando ela começou a espasmar. E espasmando... foi gozando. Devagar e docemente, foi gozando no compasso da língua dele!

Ainda espasmava quando ele ergueu a cabeça. E teria continuado a gozar, se ele continuasse chupando. Mas encarou-a com dois olhos brilhantes. Com um sorriso triunfante, perguntou:

– Mais calma...?

Não respondeu. Até porque, não estava. Se havia gozado pela estimulação desenvolta que ele aplicara, fato é que sua vagina continuava latejando. E muito! Estranhamente, ao invés de aplacar a febre, os carinhos daquele homem contrito e cheio de destreza, atiçavam-na mais, e mais, e mais...

Por isso, respondeu com uma negativa girando lentamente a cabeça. Ao que ele, calmamente, respondeu:

– Então deixa eu dar um jeito nisso!

Outra vez ele se ergueu. Levou a mão a um arquivo de metal, alto, que ficava ao lado da poltrona em que ela estava sentada. Pegou de lá uma embalagem colorida de preservativo. Com calma, sem nenhum afobamento, rasgou o papel, retirou a camisinha, segurou a ponta, desenrolou sobre o pau. Fez cada um dos movimentos olhando fixamente para o rosto dela, a boca levemente curvada, num risinho safado e sexy. Muito sexy!

Apoiou os joelhos na poltrona, entre suas pernas. Segurou a rola com uma das mãos e guiou-a para a entrada de sua vagina. Olhos nos olhos, novamente contrito e muito concentrado, entrou um pouco. Só a cabeça. Esperou que ela se acostumasse, que lhe comunicasse, também com os olhos, que ele poderia prosseguir. Quando ela assentiu, enlaçou suas coxas e projetou-se, resoluto, para dentro dela.

Ah! Puta que pariu, que delícia! – ela deixou escapar. Dali já fechou os olhos, puxou-o pelas costas, procurou sua boca, beijou-o. Sentiu as estocadas firmes preencherem seu corpo e reverberarem em ondas, por todos os seus poros... entregou-se à ele e à dança resoluta sem nenhum constrangimento. Desmanchava-se...!

– Vem cá. – a voz rouca lhe pediu.

Saiu de dentro dela, estendeu-lhe a mão, puxou-a para cima. Conduziu-a até a mesa, disposto a entrar nela por trás, segurando com firmeza a sua cintura.

Não titubeou. Inclinou o busto sobre o tampo e empurrou sem cerimônia a caixa de parafusos. Empinou a bunda, ficou na ponta do pés e completamente desvairada de tesão, lhe implorou:

Me fode! Com força!

Implorou várias vezes. Fez da frase uma espécie de mantra e a repetiu sem cessar pelos instantes seguintes. Foi generosamente obedecida. Ele tomou o pedido ao pé da letra: violenta e incessantemente a estocou sobre a mesa.

Ela gritou. Gemeu, suspirou, mordeu os lábios, xingou, se contorceu. Gozou. Gozou como louca, de forma frenética e intensa, perdendo-se de si e se encontrando nele. Não uma, nem duas vezes, mas numa sucessão prodigiosa de sensações que lhe varriam o corpo de ponta a ponta.

De novo, ele alterou a métrica. Saiu de dentro dela, trouxe-a para cima, virou-a de frente. Olhou-a dentro dos olhos. Parecia querer ler na sua retina alguma coisa que lhe escapava, que não conseguia captar através dos tremores do seu corpo.

Devagar, baixou as alças de seu vestido. Baixou as alças do sutiã. E liberou dois seios fartos para que a boca pudesse se servir. Como tudo o que fazia, mamou nela contritamente. Não mordeu, não sugou com força, não apertou, não empurrou os biquinhos para dentro. Chupou carinhosamente, com langor, sem pressa. Envolveu-os com as mãos ásperas, encostou a boca neles, “alimentou-se” do leite imaginário que jorrava de seus gemidos...

Satisfeito, parou. Afastou-se. Observou seu rosto. Com os seios ainda seguros pelas mãos, ele sorriu para ela. Estava encharcado de suor. Mas, claramente contente pela voracidade com que ela se dava, sem ressalvas. Sem reservas.

– Lerda...

Ela sentou na mesa. Puxou-o com as pernas para junto de si. E, mais uma vez, sentiu-se plena dele, consistentemente preenchida por aquele acontecimento em forma de pica!

Investiu do jeito que ela apreciava: com vigor, com força, rápido. Passou as mãos por baixo dos seus braços, segurou-lhe os ombros com as palmas em gancho, garantiu o apoio do pés. Seus olhos se encontraram com os dela, lhe dizendo tacitamente que também gozaria. Ali, com ela.

Reiniciou a dança. No entanto... o telefone dele tocou.

Interrompeu os movimentos com uma interjeição de impaciência. Não foi brusco, nem saiu de cima dela como se o aparelho tivesse produzido um choque elétrico. Ele o fez com irritação e pesar.

– Desculpa, eu tenho que atender.

Deixou-a com certa fleuma, indo na direção da mesa de centro. Segurou o aparelho, observou o nome do contato e, por fim, caminhou na direção da porta, para atender.

Ela o seguiu com o olhar. Saiu da mesa e se encaminhou para o grande sofá verde que, embora submetido à uma cenografia dedicada, permanecia intacto. Sentou-se “esparramada” no estofado áspero. Braços no encosto, pernas ligeiramente afastadas e um ar brejeiro no rosto.

Achou interessante vê-lo perder a aura mágica de homem perfeito, pronto para ser encontrado e alçado à condição de príncipe. Já sabia que ele não era nada disso. Afinal, destrinchara não apenas os seus perfis sociais, como os perfis dos seus contatos. Logo, sabia perfeitamente que ele estava longe de ser um santo!

De costas, ele respondeu que estava prestando um socorro e que era coisa urgente. Mas garantiu que passaria no supermercado e compraria o que lhe estava sendo pedido. Quando desligou, voltou-se, sem saber direito o que dizer e nem o que fazer com o telefone.

Ela deixou escapar uma risada debochada, medindo-o de alto a baixo.

– O que foi, senhor mecânico? Acabou o gás?

Ele meneou a cabeça.

–Não. O suco.

– Ah!

Ele correu os olhos pela sala, evitando encará-la. Coçou o canto da boca, mordeu um pouco os lábios. No fundo ela estava gostando de vê-lo naquela “saia justa”, sem jeito, fragilizado. Mais do que isso: a exposição e todas as significâncias inerentes à ela, o humanizavam. E retiravam dele o poder de fogo que demonstrara ter sobre ela.

– Bom, eu... estou mais ou menos separado e...

Não o deixou terminar. Escorregou para a ponta do sofá, abriu as pernas e inclinando o corpo para frente, disparou:

– Você sabe que eu não tenho o menor interesse nisso, não é?

Ele ergueu a cabeça. Mais uma vez olhou dentro dos olhos dela, em busca da resposta que parecia ter procurado ainda há pouco. Quando enxergou o rasgo de ironia, um traço fino de descaso e, sim, um apego absoluto à própria liberdade, baixou os ombros e os olhos. Foi a vez dele engolir em seco e espasmar num sorrisinho nervoso. Ela ergueu o dedo indicador. Fez um sinal para que ele se aproximasse. E fechou a fatura:

– Vem acabar de prestar o socorro, vem! Você não vai querer se atrasar para o jantar...!

R.M. Ferreira


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