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Foto do escritorR. M. Ferreira

O homem do Dorama



O título original de “Apenas por Hoje”, era “Dorama em Paraty”. Inclusive, aparece bonitinho, no canto direito da capa. Como já revelei em outras oportunidades, o romance flerta descaradamente com elementos da cultura coreana e um dos seus grandes produtos de exportação, os Doramas. A ideia inicial era escrever um romance “fofo”, que pudesse ser apresentado aos leitores rapidamente, sem muitos malabarismos. Mas, como diz o ditado: quem não te conhece, que te compre, né Rosa? Lá fui eu me apaixonar pelo Lee Min-ho e rachar os bicos de assistir todos, ou quase todos, os Doramas nos quais ele era protagonista. O resultado, é um romance delícia. Mas, nada simples.


Para quem é novo na parada, “Dorama”, ou Drama Coreano ou, ainda, K-drama, é o nome que se dá a toda uma miríade de dramas televisivos, produzidos na República da Coreia, a Coreia do Sul, e de lá exportados para o resto do mundo. A ideia não é nova. As primeiras transmissões se deram na década de 1920, através do rádio, ainda no tempo em que a península da Coreia estava sob o domínio japonês. O “boom” viria na década de 1990, tendo por marco o nascimento do canal SBS (Seoul Broadcasting System), que investiu pesado na corrida para atrair novos telespectadores. Também foi naquela década que se chegou ao formato de minisséries (entre 12 e 24 episódios), tornando mais fácil surfar na chamada “onda coreana” que hoje fatura bilhões na indústria do entretenimento. Dentre seus produtos de exportação, creio que os mais famosos no Brasil sejam as bandas de “K-pop”, como, por exemplo, a boy band BTS que arranca suspiros e comoção generalizada de um exército mundial de fãs adolescentes.


No caso do meu livro, obviamente “Apenas por Hoje” é um romance adulto, escrito para adultos. O flerte com a cultura pop coreana se deu na construção do meu personagem principal, o agente Kim Tan-woo e todo o plano de fundo necessário para moldar a sua personalidade, seu passado e sua história. Homem complexo, com várias camadas de realidade, foi profundamente marcado pelo fato de ser mestiço, filho de pai afrobrasileiro e mãe coreana. Não por acaso, na tensa conversa que antecede a revelação de quem ele realmente é, Kim diz para a protagonista: “O sangue, Laura, e a pureza da linhagem, estão entranhados na cultura e no nacionalismo coreano*. Essas são as coisas mais importantes na sucessão dos Chaebols. A minha história, a história do homem que eu sou e do que me tornei, é também a história de como eu sobrevivi a tudo isso.”


Sem dúvida, Kim é um homem intenso. Mas nem por isso menos fofo. Ele é de, longe, o personagem mais “delicinha” que já criei e com o qual eu estabeleci a minha maior empatia. Explico. Para além do fato de ser lindo de morrer e um colírio para olhos cansados, a despeito de toda a sua história de vida, Kim Tan é um sujeito muito bem humorado e que adora cuidar da Maria Laura, nossa protagonista. O homem não apenas cozinha, lava, passa e arruma, como leva leite quentinho na cama, dá banho e penteia os cabelos dela. E isso tudo sem um mísero arranhão na própria autoestima e sexualidade, porque ele é muito seguro de si. Embora afirme reiteradas vezes que é “machista”, a sua justificativa tem muito mais a ver com o fato de não gostar de ficar por baixo na hora da transa, do que com a própria masculinidade. Além disso, ele sabe perfeitamente que os orgasmos de Maria Laura, só ocorrem quando ele está por cima. E como ele é um moço muito responsável pelo bem estar dela...


"Trouxe Maria Laura para cima dele, pernas abertas sobre seus quadris, joelhos apoiados no colchão. Mão enfiada em seus cabelos, empurrou-a de encontro à própria boca, enovelando suas línguas, chupando seus lábios. Com a outra mão, guiou o pênis para a entrada da buceta compreensivelmente encharcada e arremeteu com força, cravando-se inteiro dentro dela, descendo as mãos para sua cintura, forçando seus quadris para baixo.


Maria Laura espasmou em um gemido profundo, sentindo a pica grossa devassar seus espaços. Plenamente preenchida, rebolou os quadris, dançou contraindo as paredes da vagina, acompanhando com os olhos semicerrados as expressões de prazer no rosto de Kim. Sentindo-se a mulher mais poderosa do planeta, por conseguir levar aquele homem ao delírio, esperou o jorro de esperma inundar seus recônditos. Não estava nem perto do próprio orgasmo, mas queria levar aquela cavalgada até o final, pelo exclusivo deleite de vê-lo gozar com ela sobre ele, no absoluto controle do seu corpo. Mas a façanha durou só até aí. Num único e decisivo movimento, Kim a virou na cama e em dois segundos, o “enorme pássaro” voou “acima do mar escuro”, boca carnuda colada em seu ouvido:

– Nem vem, Maria Laura... Se você não gozar, não tem graça pra mim.

– Ah! Não é porque você é um machista incurável? – sussurrou de volta, surpresa e aliviada, cruzando os braços em torno do seu pescoço. E ele:

– Também!

Ele sabia como conduzi-la, como estoca-la, como arremeter com frenesi e força, pressionando com exatidão o ponto dos seus orgasmos. Também sabia como se controlar, esperando-a, concentrado exclusivamente nela. Quando Maria Laura gritou, espasmou, desvairou-se, ele estava pronto para segui-la, encontra-la e com ela entrar em êxtase, suspenso entre a morte e a vida."


Traz o leque, Amora. E abaaaana! Penso que agora dá pra você entender porque eu adoro o personagem e aprecio por demais a alquimia que utilizei para compô-lo. Por certo, já recebi críticas sobre a forma com que construo os meus personagens masculinos e o Kim não é exceção. Aliás, isso vem desde o protagonista do conto “O homem perfeito”, presente na coletânea “Quatro Contos Eróticos” que, inclusive, continua na promoção leia um conto de graça!


Se você quer um papo reto, já cansei de ler coisas do tipo: “mas homem perfeito não existe; seus personagens não existem na realidade; nem todo homem tem o pau grande ou é rei da foda”, etc. e etc. A minha resposta para todo esse blá, blá, blá é a de sempre: eu escrevo fantasias. E mais, escrevo fantasias para mulheres que trabalham, que seguram a onda, que andam pra cima e pra baixo equilibrando absolutamente tudo: emprego, conta, supermercado, chefe, casa, filho, faxina, roupa pra lavar, reunião escolar, dever de casa, comida pra fazer, lanche pra arrumar, remédio na hora certa, consulta no pediatra, esporro pra arrumar o quarto, cobrador na porta, academia, dieta, maquiagem...

Mulheres que, apesar de serem tudo isso, não raro encontram pelo caminho uns "macho escroto", que de tão inseguros descontam na companheira a sua insegurança. Não vou nem fazer aquele trocadilho do “atire a primeira pedra quem nunca...”, pois os números que atestam a violência contra a mulher e o feminicídio na nossa sociedade, já falam por si.


Portanto, se você não entendeu até hoje, que fique a dica. O que faz o homem do romance ser perfeito não é o fato dele ser lindo, moreno, sarado e rico. Por ser um personagem, ele pode ter todos os atributos físicos, materiais e intelectuais que a escritora acha que ele deve ter. Mas, mesmo com todos os atributos e opcionais de fábrica mais fodásticos que eu possa dar pra ele, a sua perfeição só é possível na medida das suas ações. Dito de outra forma, são as ações do personagem, a forma com que ele trata a protagonista, seu desvelo e seu cuidado é que fazem dele um homem perfeito.


Por tudo isso, Kim Tan-woo é perfeito. E, embora a sua companheira de jornada igualmente seja uma personagem, a história de Maria Laura, seu perfil, sua vida de trabalho e o ex noivo escroto que a descartou como um prestobarba, se conectam com as experiências de mulheres que existem, lutam e sobrevivem na realidade nossa de cada dia. Portanto, eu escrevo para essas mulheres reais, com o sincero intuito de que elas possam se identificar com as protagonistas dos meus livros e que, ao invés de dizerem apenas “nossa, eu queria um homem assim”, elas também possam dizer, para si e para o mundo, “eu mereço ser tratada assim”. Isso, colega, faz toda a diferença!

Fica a dica.



Beijoooooo da Rosa e até a próxima prosa!


Faça uma escritora feliz e espalhe pelas redes, Amora!





* Até recentemente, a Coreia do Sul usava de forma institucionalizada o termo danil minjok para se referir à raça pura coreana. Trata-se da ideia de que a Coreia manteve seu "eu" característico e racialmente puro, rejeitando os invasores, impedindo assim a desintegração de sua linhagem de sangue com estrangeiros. Saiba mais em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44936068

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